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Integração sensorial e Terapia de Integração Sensorial

A integração sensorial é o processo de organização das sensações que recebemos a todo tempo por meio de nossos sentidos. Esse processo ocorre no cérebro e é essencial para que possamos nos organizar no tempo e espaço, e realizar todas as atividades do cotidiano. Neste artigo, vamos abordar a integração sensorial e suas contribuições para a nossa vida, assim como o tratamento para quando ela não ocorre da forma como deveria.

AFINAL, O QUE É INTEGRAÇÃO SENSORIAL?

Tente imaginar um complexo de ruas e avenidas, onde o movimento de veículos é controlado apenas por agentes de trânsito. É tarefa dos guardas organizar e direcionar os motoristas para que o fluxo veicular corra de forma ordenada e efetiva. Nosso cérebro possui função similar: é seu dever classificar e ordenar as sensações que recebemos constantemente através de nossos sentidos. Quando o fluxo de sensações é desorganizado – isto é, quando o cérebro não funciona como o esperado –, a vida pode se assemelhar a um imenso trânsito em horário de pico.

Segundo A. Jean Ayres, esta organização cerebral das sensações corporais para um determinado fim corresponde à integração sensorial. O “fim” pode ser a percepção de si ou do mundo, uma resposta intencional a uma situação, um processo de aprendizagem ou o desenvolvimento de uma função neural. A integração sensorial possibilita que as diferentes partes do sistema nervoso trabalhem em conjunto, permitindo que o indivíduo possa interagir com o seu entorno de forma efetiva.

Integração sensorial

Desenvolvimento infantil e integração sensorial

A integração sensorial de um indivíduo se inicia já no útero, quando o cérebro do feto sente os movimentos do corpo materno no espaço e também os seus próprios movimentos. Mesmo no útero, o feto está exposto às sensações táteis, proprioceptivas, vestibulares e auditivas. O seu mundo se resume basicamente a informações sensoriais. Nos primeiros anos de vida, é necessário que uma enorme quantidade de integração sensorial aconteça para que o desenvolvimento motor1 seja adequado.

A teoria descrita por Ayres indica que, até os sete anos, o cérebro da criança pode ser visto como uma “máquina de processamento sensorial”. Suas ações são primariamente respostas motoras às sensações que vivencia. Esse processo é fundamental para desenvolver uma base sólida que servirá de alicerce para funções cerebrais cognitivas e sociais refinadas. Assim, “A integração sensorial que ocorre ao movimentar, falar e brincar é o que dá suporte para a leitura, escrita e comportamento adequado.”.

1 Já falamos de forma mais detalhada sobre desenvolvimento motor infantil neste artigo.

Os sentidos e a integração sensorial

Sensações podem ser vistas como um alimento ao sistema nervoso para produção adequada de respostas a uma dada situação. A interface entre o sistema nervoso e meio ambiente que permite a captação destas sensações é formada por sensores – ou receptores sensoriais – presentes ao longo do nosso corpo. É dessa maneira que, ao comermos uma tangerina, sentimos seu aroma, gosto e textura, como também observamos sua aparência.

Informações sensoriais são coletadas por cada músculo, articulação e órgão vital que possuímos. Contudo, existem órgãos especializados, dotados de receptores para coleta específica de sensações e transformação dos estímulos sensoriais em impulsos nervosos. De um modo geral, classificamos os sensores de acordo com a natureza do estímulo captado, chegando, então, aos cinco sentidos popularmente conhecidos: tato, olfato, paladar, audição e visão. A literatura indica, ainda, a existência de dois sentidos adicionais, encarregados de nos dizer onde nosso corpo se encontra no espaço e como está se movendo, sendo eles:

    • Propriocepção: noções de posição e movimento;
    • Vestibular: noções de gravidade, movimento de cabeça e balanço.

Quando o corpo e todos os sentidos cumprem juntos suas funções, o cérebro trabalha em um padrão equilibrado e bem organizado, facilitando o processo de adaptação e de aprendizagem da criança, por exemplo.

Sentidos integração sensorial

Disfunções de integração sensorial

Voltando à analogia citada no começo deste artigo, podemos enxergar o cérebro como uma grande cidade, cujas ruas e avenidas recebem o fluxo de sensações – fisicamente representadas por impulsos nervosos. Um processamento sensorial adequado permite que todos os impulsos nervosos fluam naturalmente e cheguem ao seu destino sem complicações. Todavia, em algumas situações, essas vias podem estar congestionadas, impedindo que pedaços de informação sensorial alcancem determinadas regiões do cérebro. Nestes casos, dizemos que o indivíduo possui uma “disfunção de integração sensorial”.

Alterações de integração sensorial2 podem ser o resultado de um trauma cerebral originado por um acidente ou uma doença. No entanto, sua presença não significa necessariamente que o cérebro possui algum tipo de dano em sua estrutura, tal qual um congestionamento não é ocasionado somente pela existência de buracos nas vias. Esta, aliás, é uma das dificuldades de se identificar disfunções de integração sensorial: uma vez que ocorrem dentro do cérebro, alterações de integração sensorial podem não ser tão óbvias quanto uma catapora ou um braço quebrado.

2 Leia este artigo caso queira se aprofundar mais em alterações de integração sensorial.

Sinais de disfunção de integração sensorial no dia-a-dia

Os sinais de alterações de integração sensorial variam de acordo com a criança e o tipo de disfunção apresentado. Listamos abaixo alguns exemplos de comportamentos que podem indicar a presença de disfunções sensoriais. Lembramos que não se deve analisar apenas a presença ou ausência do sinal, como também sua qualidade e frequência nos contextos de vida do indivíduo. 

Disfunções envolvendo o sistema vestibular

  • Aparenta desenvolvimento típico, porém possui problemas em aprender a ler ou em fazer cálculos;
  • Procura e/ou tolera atividades em movimento, como balançar, correr e pular, não parecendo ficar tonta como demais crianças;
  • Cai mais frequentemente que outras crianças de sua idade;
  • Possui dificuldades em tarefas que requerem usar as duas mãos ou os dois lados do corpo, como usar tesouras, amarrar os sapatos ou andar de bicicleta;
  • Não se diverte tanto quanto outras crianças em brinquedos de playground ou brinquedos com movimento;
  • Demonstra medo em andar em superfícies elevadas como se fossem altas para a criança, mesmo não sendo.

Disfunções envolvendo o sistema proprioceptivo

  • Não consegue permanecer sentada sem se apoiar. Quando sentada, movimenta-se o tempo todo;
  • Apresenta dificuldades com o traçado na escrita, o qual pode ser fraco, irregular e/ou desalinhado – este também pode ser um sinal de disfunção do sistema tátil;
  • É desorganizada, desajeitada e/ou distraída;
  • Necessita de mais tempo que outras crianças para aprender tarefas como amarrar os sapatos, vestir-se e escrever letras e números;
  • Está sempre buscando estímulos de força e impacto (corre, pula), tem dificuldade em manter-se parada;
  • Aparenta ser mais “mole” do que as outras crianças, não consegue manter a postura e sustentar o próprio peso, está sempre se apoiando em algo ou alguém.

Disfunções envolvendo o sistema tátil

  • Evita ser tocada no rosto ou move a cabeça de objetos próximos a seu rosto, não gosta de ter os dentes escovados, rosto ou cabelos lavados;
  • É agressiva com colegas de classe, empurrando-os ou batendo neles;
  • Resiste a mudanças na alimentação, apresentando recusa alimentar ou insistência em algum tipo de alimento (cor, sabor, textura);
  • Não gosta de ficar descalça, principalmente na grama ou na areia;
  • Não gosta de usar roupas novas ou tem preferência rigorosa por tecidos específicos e não aceita outros;
  • Aparenta ter necessidade incomum de tocar ou evitar tocar certas superfícies ou texturas, como cobertores, carpetes ou bichos de pelúcia.

Disfunções envolvendo o sistema visual

  • Demonstra dificuldades em manter o traçado dentro de linhas ou formas ao colorir, desenhar ou escrever;
  • Não gosta de estar em lugares que não conhece, pois sabe que pode se perder facilmente;
  • Aparenta ter problemas em encontrar coisas em uma gaveta ou achar alguém no meio de várias pessoas;
  • Tem dificuldades em reconhecer similaridades e diferenças em padrões;
  • Parece entender partes de um projeto ou dever de casa, porém tem problemas em compreendê-los como um todo;
  • Erra os degraus ao subir ou descer escadas.

Disfunções envolvendo o sistema auditivo

  • Tem dificuldades em ouvir e olhar ao mesmo tempo;
  • Ouve bem em ambientes calmos, porém fica confusa ou desconcertada em lugares barulhentos;
  • Entende parte de uma descrição ou história quando lida em voz alta, porém pouco dos detalhes;
  • É sensível a barulhos e, às vezes, ouve coisas que outras pessoas não ouvem;
  • Fala de uma forma monótona ou com voz alta;
  • Aparenta ficar sobrecarregada ou distraída com risadas, festas ou várias pessoas falando ao mesmo tempo, como em um restaurante.

E COMO A TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL ENTRA NA HISTÓRIA?

A Terapia de Integração Sensorial, desenvolvida pela terapeuta ocupacional americana A. Jean Ayres, visa fornecer estímulos sensoriais à criança em um processo natural e lúdico, focando em sensações corporais – principalmente táteis, proprioceptivas e vestibulares. As atividades propostas permitem que o paciente seja capaz de integrar sensações até então não integradas devido a suas disfunções. Chega-se, assim, a resultados que podem ser mais efetivos que aqueles obtidos com medicação, análises psicológicas e outros tipos de tratamento, conforme relatado por Ayres.

É interessante observar que a terapia com a abordagem de Integração Sensorial não tem como objetivo a aquisição e/ou aprimoramento de habilidades específicas, como ler ou escrever, mesmo que isso possa ocorrer durante o tratamento. Ao invés disso, a terapia propõe-se a apresentar estímulos e desafios que, à primeira vista, aparentam simples brincadeiras. Com as atividades propostas, a criança aprende a organizar seu cérebro de modo que este se desenvolva e passe a trabalhar melhor. Assim, a terapia pretende ajudar a criança a ser mais capaz de aprender e/ou adquirir habilidades motoras e acadêmicas.

O grande desafio do terapeuta que utiliza a Terapia de Integração Sensorial é fazer com que a criança aceite a assimile os diferentes estímulos, mantendo o contexto de brincadeira. Para que uma resposta adaptativa adequada seja gerada, o profissional deve apresentar o “desafio na medida certa”, ou seja, uma atividade que seja desafiadora para criança, porém possível de ser realizada, quando devidamente motivada. Como é de se imaginar, a criança é um participante ativo na terapia: resultados positivos aumentam a motivação para o engajamento em atividades que promovem seu crescimento, o que, em troca, otimiza sua integração sensorial.

Terapia de Integração Sensorial

A quem se destina?

A Terapia de Integração Sensorial de Ayres é indicada para crianças com alterações do processamento sensorial. Para a correta aplicação da abordagem, é necessária uma avaliação minuciosa por profissional treinado e qualificado. Dentre os diagnósticos mais comuns e conhecidos que apresentam maior número de crianças com disfunções de integração sensorial, temos:

    • Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como autismo;
    • Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH);
    • Síndrome de Down;
    • Paralisia cerebral;
    • Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC);
    • Atraso do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM);
    • Síndrome do X Frágil.

É de se observar que mesmo crianças que não apresentam um dos diagnósticos listados acima podem apresentar alterações e se beneficiar da Terapia de Integração Sensorial de Ayres.

Qual profissional está habilitado para aplicar este tipo de terapia?

A Terapia de Integração Sensorial foi desenvolvida pela terapeuta ocupacional e psicóloga educacional A. Jean Ayres, professora da University of Southern California (USC). Desde então, a USC admite profissionais da área de Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Fonoaudiologia em seu programa de formação em Terapia de Integração Sensorial, habilitando-os para avaliar e aplicar a técnica a partir de curso teórico e prático, como indicado no site da universidade.

É possível fazer uma “terapia” em casa, na escola ou no parquinho?

“O meu filho possui alterações de integração sensorial, porém ele está em contato constante com estímulos sensoriais na escola. Isso quer dizer que a Terapia de Integração Sensorial não é necessária, certo?”

Não! Primeiramente, devemos lembrar que o modelo de escola atual privilegia o progresso acadêmico e intelectual em detrimento do desenvolvimento motor das crianças – o qual, como explicado anteriormente, serve como alicerce para funções cognitivas mais refinadas. Além disso, crianças com alterações podem brincar normalmente em casa ou escola, porém de uma forma que não é “integrativa”. Em outras palavras, os estímulos citados podem não desenvolver respostas adaptativas que possibilitem a organização de seu cérebro.

Um profissional devidamente treinado em Terapia de Integração Sensorial de Ayres possui conhecimentos na área de neurociências, sendo capaz de avaliar os sistemas sensoriais da criança e, assim, planejar um ambiente adequado e mais efetivo às suas necessidades. Vale ainda ressaltar que o terapeuta irá encorajar, persuadir e motivar a criança a realizar as atividades que melhor ajudam no desenvolvimento de seu cérebro.

Sobre a Terapia de Integração Sensorial é verdadeiro afirmar que…

  • Não tem intenção de ensinar habilidades específicas à criança, mas sim ajudá-la a organizar seu cérebro para trabalhar melhor;
  • É realizada em um contexto lúdico, onde escolhas e interesses da criança guiam o terapeuta na seleção de atividades terapêuticas;
  • Deve ser realizada com atividades que não sejam muito fáceis nem muito difíceis, a fim de fornecer um “desafio na medida certa” para a criança;
  • Quanto mais a criança se encontra motivada a participar das atividades, maior a chance de persistir nos desafios propostos;
  • A olhos não-treinados, pode parecer que o terapeuta está apenas brincando com a criança enquanto, na verdade, ele está trabalhando para que a “brincadeira” melhore o sistema nervoso da criança;
  • A terapia possui uma abordagem holística, envolvendo o corpo como um todo e todos os sentidos;
  • Geralmente, os pais notam uma melhora na autoconfiança da criança logo após iniciado o tratamento.

TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL E A CLÍNICA MULTI SENSORIAL

A Clínica Multi Sensorial está situada na cidade de São Paulo e conta com equipe formada por profissionais com Certificação Internacional em Terapia de Integração Sensorial. Possuímos um ambiente amplo e agradável dedicado exclusivamente à prática da Terapia de Integração Sensorial. Nossa sala dispõe de equipamentos diversificados fabricados por especialistas certificados e reconhecidos no mercado. Desse modo, conseguimos proporcionar diferentes possibilidades lúdicas e terapêuticas de acordo com a necessidade de cada criança.

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Clínica Multi Sensorial

LINKS PARA APROFUNDAMENTO

BIBLIOGRAFIA

1. Ayres, J. A. Sensory Integration and the Child. Revised and updated by Pediatric Therapy Network, 2013 – Copyright ©️2005 by Western Psychological Services.

2. INFANTE-MALACHIAS, M. E. As nossas duas naturezas: uma reflexão sobre a nossa biologia e sobre a cultura que acolhe o humano.