Vamos falar um pouco mais sobre sinais de alerta que servem de indicativo para o Transtorno do Espectro Autista (TEA) – popularmente conhecido como autismo? A importância desse tópico se dá pelo fato de que a identificação de sinais iniciais de TEA possibilita intervenções terapêuticas precoces, levando a resultados mais significativos. Isso ocorre não apenas por fatores fisiológicos (ex: a maior plasticidade das estruturas do cérebro humano nos primeiros anos de vida), como também por aspectos psicossociais, dada a importância das experiências de vida de um bebê para o funcionamento das conexões neurais.
Sabe-se que manifestações do quadro sintomatológico devem estar presentes até os três anos de idade, fator que favorece o diagnóstico precoce. É importante observar que não se deve analisar apenas a presença ou ausência do desenvolvimento de uma competência e/ou habilidade, mas também sua qualidade e frequência nos contextos de vida do indivíduo.
Lembramos que não se deve analisar apenas a presença ou ausência do desenvolvimento de uma competência e/ou habilidade, mas também sua qualidade e frequência nos contextos de vida do indivíduo!
0 a 6 meses
Interação social
- Por volta de 3 meses: menor ou nenhuma busca do olhar do cuidador (carência de interação olho no olho);
- Ausência de movimentos antecipatórios em relação ao outro;
- Reações indiferentes a pessoas que não sejam próximas;
- Em torno de 6 meses: maior atenção a objetos e/ou brinquedos do que pessoas;
- Falta de iniciativa em começar, provocar e sustentar interações com adultos próximos.
Linguagem
- Baixa ou nenhuma resposta à (melodia da) fala humana;
- Tendência ao silêncio e/ou a gritos aleatórios;
- Em torno de 3 meses: choro indistinto em diferentes ocasiões, com frequentes crises de choro duradouro, sem ligação aparente a pessoas ou estados de desconforto (fome, birra, entre outros).
Brincadeiras
- Ausência ou raridade de comportamentos exploratórios, como sacudir, atirar e bater em objetos e brinquedos.
Alimentação
- Dificuldades em atentar-se a gestos, expressões faciais e fala do cuidador durante a amamentação.
6 a 12 meses
Interação social
- Dificuldades em apresentar comportamentos imitativos (exemplo: enviar beijo) e/ou antecipatórios (exemplo: estender os braços e fazer contato visual para pedir colo).
Linguagem
- Choro indiferenciado e/ou gritos aleatórios, dificultando a compreensão de suas necessidades;
- Tendência ao silêncio e/ou à carência de amplas expressões faciais com significado, como risadas e sorrisos;
- Indiferença a convocações, não aparentando “conversar” (gritos, balbúcios, movimentos corporais) com seu cuidador;
- Falta de reação ao ser chamado pelo nome, respondendo apenas após insistência ou toque;
- Ausência ou raridade de repetição de gestos (manuais e/ou corporais) frente a uma solicitação, como acenar, bater palmas, mostrar a língua e dar beijo, ou repetição de gestos em situações aleatórias, fora do contexto.
Brincadeiras
- Engajamento em brincadeiras apenas sob insistência do adulto;
- Ausência ou raridade de contato visual para manutenção da interação.
Alimentação
- Resistência a mudanças e novidades na alimentação quanto a diferentes texturas e sabores.
12 a 18 meses
Interação social
- Ausência ou raridade de gesto de atenção compartilhada, caracterizado pelo ato de apontar (com o dedo indicador) para mostrar coisas que despertam a sua curiosidade. Em crianças típicas de 15-18 meses, o gesto é geralmente acompanhado por contato visual, sorrisos e/ou vocalizações (sons).
Linguagem
- Primeiras palavras ausentes nesta faixa etária ou fala exclusivamente em usos “congelados” (situações do cotidiano muito repetidas). A fala pode parecer adequada, porém estar em repetição, sem autonomia;
- Dificuldade em ampliar a compreensão de situações novas;
- Comunicação com variação reduzida de expressões faciais a não ser em situações de alegria/ excitação, raiva ou frustração. Crianças típicas apresentam expressões que refletem o estado emocional, como arregalar os olhos e fixar o olhar no adulto para expressar surpresa ou constrangimento.
Brincadeiras
- Exploração limitada de brinquedos com fixação de partes específicas do objeto, não havendo interesse de suas funções (exemplo: passar mais tempo girando a roda de um carrinho do que o empurrando);
- Ausência do jogo de faz-de-conta, presente em crianças típicas a partir dos 15-18 meses de idade.
Alimentação
- Resistência elevada à introdução de novos alimentos na dieta.
18 a 24 meses
Interação social
- A criança pode não se interessar e não tentar pegar objetos oferecidos por pessoas, ou fazê-lo somente após muita insistência;
- Pode não seguir o apontar ou o olhar dos outros. Pode não olhar para o alvo ou olhar somente para o dedo de quem está apontando. Além disso, não alterna seu olhar entre a pessoa que aponta e o objeto que está sendo apontado;
- Em geral, só mostra ou dá algo para alguém se isso se reverter em satisfação de alguma necessidade sua imediata (abrir uma caixa para que ela pegue um brinquedo: uso instrumental do parceiro).
Linguagem
- Tende à ecolalia;
- Utiliza menos gestos e/ou o faz aleatoriamente. Respostas gestuais, como acenar com a cabeça para “sim” e “não” também podem estar ausentes.
Brincadeiras
- Pode se fixar somente em algum atributo do objeto, como a roda que gira ou a uma saliência pela qual passa os dedos, não brincando apropriadamente com o que o brinquedo representa;
- Raramente ou nunca utilizam brinquedos para imitar as ações dos adultos (por exemplo: dar mamadeira a uma boneca, dar “comidinha” usando uma colher, “falar” ao telefone, etc.).
Alimentação
- Pode resistir às mudanças, pode apresentar recusa alimentar ou insistir em algum tipo de alimento, mantendo, por exemplo, a textura, a cor, a consistência, etc.;
- Pode, sobretudo, resistir em participar da cena alimentar.
24 a 36 meses
Interação social
- Gestos e comentários em resposta aos adultos tendem a aparecer isoladamente ou após muita insistência. Esse é um dos principais sinais de alerta para o TEA.
Linguagem
- Repetição de relatos, narrativas e falas de outra pessoa, inclusive diálogos, sem relação com a situação de comunicação;
- Dificuldades ou desinteresse em narrativas referentes ao cotidiano;
- Tendência à ecolalia. A distinção de gênero, número e tempo não acontece. Cantos e versos só são recitados em repetição aleatória.
Brincadeiras
- Brincadeiras raras como: usar um objeto “fingindo” que é outro; imitar os papéis de adulto (“casinha”, “médico”, etc.), construindo cenas ou estórias; ela própria ou seus bonecos serem os “personagens”. Quando o faz, é de forma repetitiva e pouco criativa;
- Ausência de interesse por outras crianças. Pode se afastar, ignorar ou limitar-se a observar brevemente outras crianças à distância. Quando aceita participar das brincadeiras com outras crianças, em geral, tem dificuldade em entendê-las.
Alimentação
- Dificuldade em participar das cenas alimentares cotidianas: café da manhã, almoço e jantar. Pode permanecer na mamadeira, apresentar recusa alimentar e não se adequar aos “horários” de alimentação;
- Pode querer comer a qualquer horar e vários tipos de alimento ao mesmo tempo. Pode passar por longos períodos sem comer. Pode só comer quando a comida for dada na boca ou só comer sozinha, etc.
LINKS PARA APROFUNDAMENTO
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Clique aqui para saber mais sobre marcos do desenvolvimento motor infantil típico.
BIBLIOGRAFIA
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Brasília, 2013.