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Transtorno do Espectro Autista

O QUE É TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como autismo, é uma condição neuropsiquiátrica caracterizada por: (A) comprometimento em habilidades sociais; (B) limitações na comunicação, seja linguagem verbal e/ou não-verbal; e (C) comportamentos estereotipados, repetitivos e com gama restrita de interesses. Como indicado em sua nomenclatura, o TEA engloba diferentes níveis – isto é, um espectro – de quadros comportamentais. Por este motivo, duas crianças com TEA podem apresentar comportamento, habilidades e/ou interesses distintos, ainda que tenham o mesmo diagnóstico.

Pesquisas mostram que a ocorrência do TEA independe de etnia, origem geográfica ou situação socioeconômica do indivíduo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que 1 em cada 160 crianças no mundo seja afetada pela condição. Nota-se, contudo, que esta proporção varia entre diferentes estudos, havendo tendência de aumento na estimativa de pessoas atípicas na população. Dentre outros motivos, isso é justificado pela substituição de um entendimento ultrapassado de que todas as crianças com TEA não interagem ou não falam, por uma concepção mais ampla e inclusiva do transtorno ao longo dos anos.

Sinais mais comuns do TEA

O Transtorno do Espectro Autista abrange uma ampla gama de habilidades e características, diferindo de pessoa para pessoa quanto à severidade e combinações de sintomas. De modo geral, crianças com TEA apresentam problemas no repertório de comportamentos (restrito e repetitivo), bem como não seguem padrões típicos de desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação. Frequentemente, os pais são os primeiros a notar comportamentos incomuns, ao comparar seus filhos com outras crianças de mesma idade.

Há situações em que os sinais do TEA são aparentes logo após o nascimento, embora, na maioria dos casos, os sintomas sejam identificados entre os 12 e 24 meses de idade. Estudos indicam que, a partir dos 12 meses, crianças atípicas e típicas se distinguem principalmente quanto à frequência de gestos comunicativos (apontar) e da resposta ao nome. O manuseio de brinquedos também pode se mostrar limitado, com fixação por partes específicas do objeto.

Outros sinais comuns que podem ser percebidos no ambiente familiar, social e escolar são listados a seguir:

  • Ausência de envolvimento afetivo com outras pessoas, mesmo familiares;
  • Baixo contato visual e deficiência no olhar sustentado;
  • Falta de resposta a sons, ruídos e vozes no ambiente;
  • Baixa frequência de sorriso e reciprocidade social, bem como restrito engajamento social;
  • Preferência por ficar sozinho, com desinteresse em brincar com outras crianças;
  • Perda de habilidades já adquiridas, como balbucio, contato visual e sorriso social;
  • Resistência a mudanças em sua rotina;
  • Movimento repetitivos (estereotipias);
  • Fixação por determinados objetos;
  • Interesses incomuns quanto a estímulos sensório-visuo-motores;
  • Aversão a toque, colo, afagos ou outros tipos de contato físico;
  • Pouca ou nenhuma vocalização;
  • Repetição de palavras ou frases no lugar da linguagem comum (ecolalia).

Quer saber mais? Clique aqui e leia nosso artigo sobre sinais de alerta do TEA divididos por faixas etárias.

Questões sensoriais no TEA

A Literatura indica que indivíduos com TEA respondem a experiências sensoriais de forma diferente quando comparadas com crianças típicas. Isso gera dificuldades na percepção, integração e modulação de suas respostas a estímulos sensoriais diários. Como resultado, a execução de atividades diárias e acadêmicas pode ser prejudicada – ficando aquém do esperado para crianças de sua idade.

De forma geral, os comportamentos de crianças com TEA podem ser divididos em seis grandes grupos, apresentados e exemplificados abaixo. Lembramos que o paciente pode apresentar uma ou mais alterações e apenas profissionais habilitados são capazes de avaliar e intervir nas disfunções de integração sensorial.

  • Baixa energia e/ou fraqueza: indivíduo parece ter músculos fracos, não consegue carregar objetos pesados, está sempre se apoiando em coisas ou pessoas;
  • Sensibilidade tátil e/ou ao movimento: reage agressivamente ao toque, evita andar descalço em lugares com grama ou areia, tem medo de altura ou movimento;
  • Procura sensorial e/ou distração: tem dificuldade em prestar atenção, toca pessoas ou objetos, fica muito excitado durante atividades com movimento;
  • Sensibilidade gustativa e/ou olfativa: come apenas alguns tipos de alimentos de acordo com sua textura e/ou sabores;
  • Hiporresponsividade: não responde quando o nome é chamado, parece não ouvir o que lhe é dito, deixa a roupa embolada no corpo, não percebe quando está com algum sujeira no corpo;
  • Sensibilidade auditiva e/ou visual: não consegue trabalhar com barulho ao fundo, tampa os ouvidos com as mãos, fica incomodado com luzes brilhantes.

Clique aqui para saber mais sobre Terapia de Integração Sensorial.

Outras condições frequentemente associadas ao TEA

Crianças com TEA podem estar mais propensas a possuir outras condições médicas quando comparadas a crianças típicas. Pesquisas indicam que uma em cada quatro pessoas afetadas pelo transtorno pode apresentar convulsões. Há ainda relatos de que indivíduos atípicos possuem maiores chances de desenvolver determinados transtornos psiquiátricos, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), depressão e ansiedade. Dificuldades motoras também são relativamente comuns entre crianças com TEA, embora sua presença não seja necessária para o diagnóstico.

CAUSAS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Embora as causas do Transtorno do Espectro Autista ainda não sejam completamente conhecidas, sabe-se que a condição está associada de alguma forma a um forte componente genético. As estatísticas mostram que há chance de 36 a 95% de que duas crianças gêmeas idênticas – ou seja, que dividem o mesmo código genético – sejam diagnosticadas com TEA. Esta probabilidade passa a ser de apenas 31% no caso de gêmeos fraternos (bivitelinos). Além disso, desordens genéticas, como a Síndrome do X frágil, são frequentemente associadas ao diagnóstico do TEA.

No entanto, apesar de claramente importantes, as causas genéticas não atuam sozinhas, sendo sua ação influenciada ou catalisada por fatores ambientais. Estuda-se a ação de elementos antes e durante a gravidez, como:

  • Idade avançada dos pais no momento da concepção;
  • Exposição pré-natal à poluição do ar ou determinados pesticidas;
  • Uso de medicações específicas;
  • Obesidade materna, diabetes ou desordens no sistema imunológico;
  • Nascimento prematuro ou peso muito baixo ao nascer;
  • Qualquer dificuldade no nascimento que leve a períodos de privação de oxigênio ao cérebro da criança.

DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Suspeito que meu filho tenha TEA. O que fazer?

Atraso na linguagem verbal, falha em responder ao ser chamado pelo nome, falta de contato visual e agitação são alguns dos indícios mais comuns que levam pais e cuidadores a suspeitar que a criança tenha TEA. Caso surja esta suspeita, procure um médico e relate a ele suas preocupações – mesmo que a existência de algum destes comportamentos não indique necessariamente um transtorno de desenvolvimento. O profissional será capaz de encaminhar a criança a uma avaliação adequada, realizada por especialistas na área.

Como é realizado o diagnóstico do TEA?

O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista pode não ser tão evidente uma vez que não existe um exame médico, como um exame de sangue, para diagnosticar o transtorno. Assim, o diagnóstico deve ser realizado em um processo contínuo com base no comportamento e no desenvolvimento da criança por equipe formada por médicos e outros profissionais da saúde, como psicólogo e fonoaudiólogo.

A avaliação deve analisar, dentre outros pontos, o histórico do paciente, o nível cognitivo (habilidades intelectuais) e de linguagem do indivíduo e o desenvolvimento de suas relações sociais. Observam-se, ainda, as habilidades da criança necessárias para completar atividades cotidianas de forma independente, como comer e ir ao banheiro. Exames clínicos podem ser solicitados a fim de excluir o diagnóstico de outros problemas, como exames auditivos e visuais.

Meu filho foi diagnosticado com TEA. Como falar isso para ele?

Esta é uma decisão pessoal! Não há apenas uma forma correta de contar a seu filho sobre o diagnóstico, mas é importante que isso seja feito. Conforme algumas crianças atípicas ficam maiores, elas podem se reconhecer como diferentes de seus amigos. Reconhecer estas diferenças e entender seu diagnóstico pode ajudá-las a compreender o porquê de terem dificuldades em algumas áreas, como também habilidades acima da média em outras.

Ao falar com seu filho sobre o diagnóstico, lembre-se de apresentar informações de modo apropriado ao nível de compreensão da criança. Dê espaço à criança para que ela faça perguntas sobre o assunto.

TRATAMENTOS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

TEA tem cura?

Neste ponto do texto, é importante ressaltar que o TEA é uma condição, e não uma doença. Não sendo uma doença, o TEA não tem cura! No entanto, medicamentos e diferentes abordagens terapêuticas realizadas por equipe multiprofissional podem auxiliar na funcionalidade e qualidade de vida de pacientes e suas famílias. É de se observar que intervenções precoces podem amenizar a gravidade do comprometimento do transtorno no desenvolvimento da criança.

Intervenção precoce

A intervenção precoce consiste em conjunto de modalidades terapêuticas que visam aumentar o potencial do desenvolvimento social e de comunicação da criança, proteger o funcionamento intelectual reduzindo danos, melhorar a qualidade de vida e dirigir competências para autonomia. Ela deve ser iniciada tão logo haja suspeita de TEA ou imediatamente após o diagnóstico, sendo capaz de melhorar significativamente habilidades cognitivas e de linguagem de crianças atípicas.

A definição do tipo de intervenção deve ser realizada após avaliação terapêutica personalizada. Isso porque cada criança com TEA apresenta suas próprias dificuldades, necessidades e dinâmica familiar. É essencial que um plano individualizado de intervenção seja estabelecido por profissional habilitado. Apresentamos a seguir intervenções comumente indicadas para indivíduos com TEA.

Fisioterapia

O Fisioterapeuta está treinado para tratar problemas de movimento e postura. O profissional possui foco em desenvolver habilidades motoras grossas, como a execução de movimentos que envolvam músculos, braços e pernas. A Fisioterapia pode ajudar crianças com TEA que tenham dificuldades motoras, de coordenação e equilíbrio. Também está apto a auxiliar com o “andar nas pontas dos pés”, tão comum em indivíduos com TEA.

Terapia Ocupacional

Crianças que apresentem dificuldades com habilidades motoras finas podem se sentir frustradas ao realizar atividades cotidianas, como escrever e abotoar roupas. Um Terapeuta Ocupacional pode auxiliar no desenvolvimento destas habilidades. O profissional também está habilitado em auxiliar no processamento de informações de sentidos, bem como na execução de tarefas diárias, como comer, vestir-se, escovar os dentes e amarrar os sapatos.

Fonoaudiologia

O Fonoaudiólogo está treinado para avaliar e tratar dificuldades relacionadas à expressão e compreensão da linguagem. Possui formação adequada para lidar com problemas de fala, como articulação e fluência.

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Tratamento medicamentoso

É bom repetir: não há medicamentos que levem à cura do Transtorno do Espectro Autista! No entanto, determinados tipos de remédios podem ser utilizados, estritamente sob prescrição médica. Neste caso, visa-se controlar sintomas associados ao quadro do TEA, como hiperatividade, epilepsia, esquizofrenia e depressão. É de se lembrar que crianças com TEA não respondem a medicações sempre de maneira típica, sendo importante que seja avaliada por um médico que entenda do diagnóstico.

O que mais eu posso fazer?

É possível ajudar a criança diagnosticada com TEA de outras formas, além de fornecer tratamentos médicos e terapêuticos:

  • Aprenda mais sobre TEA. Procure sites e livros que te ajudem a entender melhor o que é o TEA. Ficará mais fácil para você fornecer alguma ajuda caso compreenda mais sobre este transtorno. No final deste artigo, apresentamos algumas sugestões de sites para aprofundamento no assunto;
  • Monte uma equipe de profissionais de confiança. Ser pai/mãe é desafiador mesmo ao lidar com crianças típicas. Reúna um grupo de profissionais nos quais você possa confiar. Pode ser interessante desenvolver relações de longa data com estes profissionais de modo que eles sejam capazes de monitorar seu filho ao longo do tempo e responder suas questões conforme elas surjam;
  • Planeje atividades que despertem interesse na criança com TEA. Se ela gosta de nadar, vá para a piscina ou para a praia. Se ela gosta de animais, passe o dia no zoológico. Tente achar uma atividade onde todos da família se sintam confortáveis;
  • Cuide-se. Você só poderá atender as necessidades de seu filho se você mesmo estiver bem. Procure ajuda em grupos de apoio se necessário. Caso estiver triste a ponto de se sentir paralisado, procure ajuda de um profissional.

DADOS E ESTATÍSTICAS

  • Estudo recente indica que 1 em cada 59 crianças seja afetada pelo Transtorno do Espectro Autista nos EUA;
  • Estimam-se cerca de 2 milhões de pessoas com TEA no Brasil;
  • 4 vezes mais frequente em pessoas do sexo masculino;
  • Pais que tenham um filho com TEA possuem entre 2 e 18% de chance de ter um segundo filho que também seja afetado pelo transtorno;
  • 44% das crianças diagnosticadas com TEA apresentam habilidades intelectuais entre medianas e acima da média;
  • 1/3 das crianças com TEA é não-verbal.

MITOS E VERDADES

Todo indivíduo com Transtorno do Espectro Autista apresenta deficiência intelectual?

Resposta: MITO! Indivíduos com TEA possuem habilidades cognitivas variáveis – desde retardo mental profundo até capacidades superiores. Cerca de 10% dos pacientes demonstram habilidades surpreendentes nas áreas de matemática, música, desenho, memória, dentre outras, embora apresentem comprometimento grave em outros domínios.

Não há medicamentos ou tratamentos que curem o Transtorno do Espectro Autista?

Resposta: VERDADE! O TEA não tem cura! No entanto, alguns medicamentos e tratamentos podem auxiliar na redução de sintomas específicos, como ansiedade e irritabilidade. Existem também terapias que podem ser eficazes para algumas dificuldades apresentadas, como coordenação motora, socialização e comunicação. O mais importante, contudo, é que o diagnóstico seja feito de forma precoce, com início imediato do tratamento, para maior eficácia.

Todos os indivíduos com Transtorno do Espectro Autista apresentam movimentos repetitivos, como se balançar?

Resposta: MITO! Nem todas as crianças atípicas apresentam ações repetitivas vindas do movimento, da postura ou da fala – denominadas estereotipias. As estereotipias costumam aparecer quando o indivíduo é bombardeado por estímulos sensoriais, auxiliando-o a lidar e organizar internamente tudo o que está sentindo. Abordagens terapêuticas podem auxiliar a pessoa a dar uma finalidade ou função social à estereotipia.

A vacina tríplice viral é uma das causas do Transtorno do Espectro Autista?

Resposta: MITO! A tese de que a vacina conjunta contra rubéola, caxumba e sarampo (tríplice viral) seria uma das causas do TEA foi lançada em 1998 por um pesquisador britânico – sendo refutada pela comunidade acadêmica deste então. Mais recentemente, uma pesquisa dinamarquesa realizada com mais de 600 mil crianças entre os anos de 1999 e 2013 concluiu que “a vacina tríplice viral não aumenta o risco de sofrer de autismo”. Os autores ainda dizem que “não há aumento de seu diagnóstico entre as crianças mais suscetíveis de padecê-lo e não está relacionado com casos de autismo que aparecem depois da vacinação”.

LINKS PARA APROFUNDAMENTO

BIBLIOGRAFIA

1. AUTISM RESEARCH PROGRAM – KAISER PERMANENTE DIVISION OF RESEARCH. Autism Parent Handbook – Answers to common questions. 2a edição.

2. DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Cartilha – Direitos das pessoas com autismo. Março, 2011.

3. MORAL, A.; SHIMABUKURO, E. H; ZINK, A. G.; MOLINA, E. C. Entendendo o autismo. 2017.

4. NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH (NIMH). A Parent’s Guide to Autism Spectrum Disorder. 2011.

5. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de Orientação – Transtorno do Espectro do Autismo. Abril, 2019.

6. VANDERBILT UNIVERSITY MEDICAL CENTER (VUMC). A Brief Parent Guide on Autism Spectrum Disorders (ASD): Information for Parents of School-Age Children. Outubro, 2018.